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Dicas de Viagem vegana: Minha experiência na Palestina pt II

28/04/2017No commentsChu

Se você não leu a parte I: clique aqui.

Sai do hostel e fui procurar o ponto de encontro com a Sandra.
Segundo a moça do hostel, não era longe. Ela marcou em um mapa para mim. O local era um pouco escondido mas, consegui achar.

Expliquei para a Sandra que eu não entendia nada do que ocorria entre Palestina e Israel. Que ela precisaria ter um pouco de paciência comigo e provavelmente falaria coisas sem muito sentido.
Neste momento, experimentei pela primeira vez o café árabe. Ele não é coado, é necessário esperar decantar antes de beber.

Pegamos um ônibus para Belém e paramos no check-point 300.
Os Palestinos precisam passar pelos check-points para poder entrar em Jerusalém ou se locomover dentro da própria Palestina.

Explicando de uma maneira que é possível visualizar: é como entrar em um aeroporto.
Você é revistado, podem fazer perguntas e olham seus documentos. Pode ter detector de metais também. Dizem que todo esse processo é para garantir segurança.

Se você for para Belém com algum tour, provavelmente não irá perceber que passou por esse check-point.

Chegamos em Belém e um taxista, amigo de Sandra, já nos aguardava para levar as malas para o Campo de Aida. Fomos andando até o campo.
Durante o caminho, ela nos explicou algumas coisas e foi falando como eram as coisas antes do muro. Muitas vezes o muro foi construído sem levar nada em consideração. Por isso: algumas pessoas perderem grandes pedaços da sua terra ou acesso a família que mora do outro lado.

Assim que cheguei no Campo de Aida, a realidade começou a bater na minha cara.

Lembrei da frase que uma pessoa me disse quando comentei o meu objetivo com a viagem: “as vezes a gente precisa ir longe para conseguir ver algumas realidades”. Me lembrou das favelas do Rio.

O campo de Aida era um acampamento provisório. Com o passar do tempo, as pessoas começaram a perceber que a situação não mudaria e elas não poderiam voltar para casa. Com a ajuda da ONU, eles começaram a construir casas.

Inicialmente eu senti que não ia aguentar o que estava vivenciando naquela viagem.
Não havia nem 24h que eu estava na Palestina e eu já estava bastante abalada com o que estava vivenciando.

Chegamos na casa da Islam e nos alojamos na casa do irmão dela.

Neste dia havia uma oficina culinária com Islam.
Ela tem um projeto muito legal dentro do campo que ajuda as mães que tem filhos com alguma necessidade especial. As oficinas de culinária é um dos modos que ela encontrou para continuar a ter verba para o projeto. Ela nos ensinou a fazer maklube. Pelo o que nos explicaram, maklube significa “de ponta cabeça”.

O prato é composto de arroz com especiarias e legumes fritos montados em camadas.
Na hora de servir, a panela é virada de ponta cabeça em algum recipiente para desenformar o arroz. Por isso o nome. Estava delicioso! Acho que a receptividade de Islam e sua família foi o tempero mais especial.

Todos nos trataram muito bem e serviram os famosos chás (muitos deles, sempre).

Aquelas pessoas são boas.

Isso me fez lembrar da frase: “árabes são todos terroristas”.
Nunca havia concordado com isso mas, também nunca havia parado para pensar no peso que essa frase tem em relação a visão e preconceito que existe com os árabes como um geral. Cuidado com o que a mídia tenta propagar.

Como em qualquer lugar: sempre tem as pessoas boas e ruins. Generalizar nunca funciona.

No outro dia, conhecemos o Bahá. Ele coordena o projeto “To Be There”.
É um tour político que nos explicou toda situação da ocupação israelense no Café Singer, em Beit-Sahour.
Foi uma quantidade gigantesca de informações, confesso que não consegui processar tudo.
Lembre-se: eu não conhecia NADA da história. Enquanto as meninas que estavam comigo já conheciam algumas coisas.
A conversa foi quase toda em inglês. Era cada vez mais complicado de ir entendendo por ser muita informação. Milhares de anos de histórias e conflitos em algumas horas.

Uma coisa que eu adorei: eles bebem uma quantidade gigantesca de café! O café árabe é moído com cardamomo. Eu amo café! E com cardamomo foi uma surpresa bastante agradável. Em todos os locais sempre tinha café (ou chá).
Enquanto Bahá ia nos explicando os mapas, bebemos café e comemos umas comidinhas deliciosas: pão pita, hummus, azeitonas frescas maravilhosas e completamente diferentes de qualquer outra que eu havia provado antes. O azeite também é bem diferente. O sabor lembra de coisas verdes, frutadas e frescas.

Depois dessa super aula, fomos ver algumas das coisas que Bahá nos explicou de perto. Ele mostrou as colônias ilegais, as estradas separadas onde somente os colonos israleneses podem passar, algumas casas que foram demolidas… Ele também nos explicou que é bem fácil diferenciar casas palestinas de colônias. Nas casas palestinas, sempre há caixas d’água grandes e pretas para estocar. Como o controle de água fica com Israel, eles podem simplesmente fechar o registro por dias.

Enquanto devoramos mais um lanche de falafel, Bahá disse uma frase que ouvi algumas (muitas) vezes durante a viagem: “nós não queremos doações, dinheiro ou esmolas. Queremos que alguém possa contar nossa história para, quem sabe, talvez conseguir ajuda. Ninguém sabe o que se passa aqui. Realmente não queremos o seu dinheiro. Por favor, repassem o que estou contando para vocês.” Não foram exatamente com essas palavras mas, a idéia era essa.

Se não me engano, foi neste dia que fomos para Belém, na rua da estrela ver e conhecer um dos projetos da Anne.

Anne é fotógrafa e faz trabalhos na Palestina tem alguns anos. Ela nos mostrou um documentário bem interessante que fez com as pessoas de Gaza que perderam 3 ou mais familiares nos bombardeios. É um projeto muito pesado e tocante.

Conversamos um pouco com Anne e fiquei curiosa sobre os bombardeios. Perguntei se ela havia presenciado um e ela disse que sim. Uma das coisas que eu mais me recordo é de Anne falando sobre a água: “a água é cinza e não nos recomendam o consumo. Nem mesmo para tomar banho. Uma vez fiz o teste e fiquei inteira me coçando. E essa é a água que eles bebem todos os dias.”

Foi mais um dia que retornei para Aida com a mente bastante bagunçada e sem saber muito o que pensar/sentir.

No outro dia, fomos para Jerusalém conhecer Sahar.
Ela é uma ativista israelense que luta pelos direitos dos Palestinos.

Me ocorreu mais uma vez: generalizar nunca funciona. Já que há israelenses tentando mudar as coisas.

A Sahar nos explicou como que Israel prepara as pessoas para aceitar uma sociedade super militar sem que isso seja estranho. Não estou acostumada a ver pessoas com rifles andando por ai. Em Israel é bem comum isso. Você pode entrar numa loja para comer algo e do seu lado senta uma pessoa com um rifle na cintura.
Desde a infância, as crianças são expostas à termos ou imagens militares/nacionalistas. Também há muitas palestras durante o período escolar com militares, sobre armas e etc. Entendi porque para eles isso parece algo comum.

Outro ponto imporante é que: em Israel é obrigatório fazer serviço militar, inclusive mulheres.

Sahar se recusou à servir o exército e foi punida: ficou 3 meses presa.
Foi convidada novamente e ela se recusou.
Esse processo aconteceu algumas vezes até que Sahar ficou cansada e alegou ter problemas mentais (esse é um dos poucos casos que se livra da obrigatoriedade em servir).
Ela trabalha com isso hoje em dia: ajudando os israelenses que não querem fazer serviço militar, auxiliando eles em comprovar algum tipo de condição mental. Mas, isso tem consequências: se não me engano, quem não serve, não tem acesso à bons empregos. Não me recordo se é exatamente isso mas, há uma consequência.

Neste dia provamos comida etíope e pude provar o famoso injera, pão típico desta culinária. É um pão, mesmo com o formato de panqueca. Jamais havia visto e muito menos provado.
Dentro do pão, eles colocam algumas conservas e legumes condimentados para comer tudo junto. Uma experiência interessante!

No dia seguinte, fomos conhecer a universidade Al Quds University, em Abu Dis. Pudemos ver um pouco sobre como é o local, o primeiro restaurante vegano da Palestina (Sudfeh) tomar café da manhã (pães, foul, hummus do amor e mais alguns pratos que não me recordo o nome), conhecer o pessoal da PAL (Palestine Animal League) e bater um papo com os alunos.

Considerei um pouco de sorte que um dos alunos que estavam ali ser brasileiro. Ele se mudou para a Palestina por conta da família. Foi mais fácil de conseguir entender a situação com ele contando detalhadamente em português. Também foi bastante intrigante pensar no choque cultural que foi para ele da mudança da cultura brasileira para a árabe. Era bem difícil conseguir entender o inglês com o forte sotaque árabe de algumas pessoas que conhecemos.

Por isso essa conversa em português foi essencial para mim.

A noite, fomos conhecer um restaurante de permacultura orgânica sensacional!
Estava começando a anoitecer e a vista era linda: morros com oliveiras e algumas amendoeiras com algumas poucas flores. Imagino que aquele local, na primavera, deve ser lindo!
A comida do Hosh Jasmin era muito gostosa, comi o melhor babaganoush da minha vida! Também havia um cozido de mini quiabos com mais alguns legumes que era muito bom.

Neste ponto da viagem já estava vivenciando a vida dos Palestinos havia uma semana.
A sensação de ser observada nunca passava…

Mal sabia eu o que nos esperava naquele dia: Hebron.

Sandra sempre falou que deveríamos nos preparar para Hebron porque era uma “cidade fantasma” e que era um dia bem pesado. Todas as cidades fantasmas que visitei, eram ruínas. Achei que seria algo parecido.

Depois de passar no primeiro check-point, que foi super hostil (passamos em 4 neste dia), tudo começou tranquilo em um local que parecia em ruínas. Colhemos algumas azeitonas maduras no chão de oliveiras centenárias enquanto iam nos explicando sobre como era viver em Hebron. Aos poucos, o clima foi ficando tenso.

Me senti muito estranha, não sei explicar escrevendo ou falando. Só indo até lá para entender.
O clima lá não é nenhum pouco amigável.

A medina (assim que eles costumam chamar as partes mais antigas das cidades), normalmente é onde tudo acontece! Quem já foi em uma medina, sabe do que estou falando! Tem muita vida, coisas acontecendo, pessoas, barulho… Tudo! Mas, em Hebron As portas estavam quase todas fechadas, não havia vida ou pessoas andando por ali. O exército obriga as pessoas a fecharem suas lojas e negócios.

Restaram poucas lojas abertas.

Como há muitas casas de colonos isralenses em volta, eles jogam muitas coisas nas pessoas que passam por ali. Instalaram grades e redes para proteger as pessoas. Dava para ver lixo e pedras (algumas bem grandes e pesadas) nessas proteções.

Conhecer Hebron foi uma experiência intensa. É muito complexo colocar em palavras.

Acho que a frase que mais me marcou nesse dia foi de um moço que conhecemos no caminho e pudemos conversar um pouco.
Ele disse algo parecido com isso: “o que acontece aqui é ridículo. Eu não posso andar em muitas ruas de onde eu nasci e cresci. As vezes preciso dar uma volta enorme para seguir o caminho porque os militares não deixam. Se não, apanhamos ou pode ser muito pior.”

Voltei me sentido bem vazia para Aida nesse dia.

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